É de praxe aquelas saídas no intervalo do almoço da repartição (um amigo meu gosta de chamar assim, acho nostálgico e aplico neste caso). E qualquer câmera do celular serve para capturar os melhores momentos: os instantes inusitados. Como são fotos de 2004, provavelmente as sinalizações contidas não existem mais. Perceba, entretanto, a criativa beleza delas e como é fantástica a comunicação casual que elas promovem.

Os discursos são signos, como já diz a semiótica Greimasiana. Mas o discurso mundano, despretencioso, livre, pode ser mais rico do que uma mensagem publicitária a meses pensada. Para mim, só o discurso não promove uma repertório. Precisa de um substrato. Veja por exemplo como a placa de proibição de pessoas estranhas ganha uma ênfase ameaçadora com o caminho sinuoso em um horizonte quase descampado. Gera um diálogo com o leitor. Aflora mais seu repertório de experiências.

Há também as intervenções, digamos até gaiatas, de quem passa e como todo cidadão, é proprietário da cidade. A placa de não estacionar gentilmente adiciona o termo ‘grato’, como respeito aos bons modos. Como resposta, o indivíduo sem rosto, como num jogo de palavras cruzadas, coloca o prefixo ‘in’, e muda completamente a mensagem: o que era para ser uma orientação virou uma crítica aos ingratos que nunca respeitaram estacionar direito. E certamente nenhum publicitário ou designer pensaria em algo de tamanha criatividade com duas letrinhas.

O caminho reverso também acontece. De um jeito incontrolável, como o caso da placa ‘não entre aqui’, onde o portão, já derrubado, gera a confusão mental dos signos: não posso entrar mais alguém já burlou esta regra; tenho como entrar pois o caminho está aberto mas ao mesmo tempo não tenho como, pois meu código pessoal não permite. Perceba agora que existe outro elemento no discurso: o nome Marcelo. Agora a coisa ficou feia: será que o Marcelo derrubou a porta? Poxa, Marcelo, faz isso não. Ou será que a mensagem foi apenas para o Marcelo, o que chancela a entrada dos outros? Um detalhe: pode ser que a porta tenha caído de velha. Vai saber.

A outra forma do caminho reverso é o mais utilizado pelos designers e comunicólogos (ou pelo menos que acham que se comunicam). Por não pensar no outro, acabam gerando mensagem confusas, para uma finalidade simples. Por isso que eu digo: para que tanta interatividade se o objetivo é simples? na imagem ao lado, uma forma casual e clara de descompromisso com a imagem. Aprendam de uma vez: não se repete a mesma informação, mesmo que esta seja importante. Eu jamais tiraria minha identidade, sabendo que uma seta para a esquerda, que dá para uma rua sem saída, e que me diz é pela rua por trás que devo me orientar. Por trás de onde? E que prédio é esse que estão falando? Sejamos diretos: um endereço completo não resolve? Ainda bem que tinha um guardador de carros que provavelmente diz pra todo mundo onde realmente fica o estabelecimento.

Moral da história: se você não planeja direito sua comunicação visual, saiba que que vai ler tem suas experiências de vida e vai interpretar do jeito que acha. A consciência de cada um não pode ser mudada, mas orientada. Aprenda com a cidade, e fique de olhos abertos (e o olhístico também) para lições que recebemos em qualquer lugar.