Nesta matéria contribuo sobre o mercado de games. O jornal Diário do Nordeste possui o caderno Zoeira, voltado para o público jovem. Acompanhe a matéria, que também tem a participação de amigos locais.

A brincadeira ficou séria

Os primeiros jogos eletrônicos marcaram a vida de uma galera, que cresceu em meio a consoles e computadores. Mas, quem disse que a brincadeira tinha que acabar? O Zoeira conversou com jovens que transformaram o passatempo em profissão. Aliás, é um mercado em plena expansão

Enquanto cursava a faculdade de Fisioterapia, Rafael de Souza, de 24 anos, viu um panfleto anunciando o curso de Jogos Digitais. Ele não pensou duas vezes e topou o desafio. Arrependimento? Nenhum. E Rafael conseguiu unir as duas paixões. “Conversei com alguns amigos que me falaram da complexidade de desenvolver um jogo, e vi isto como um desafio. Atualmente, busco unir os conhecimentos adquiridos na Fisioterapia com a criação de jogos”, comenta.

Segundo Rafael, ingressar neste campo ainda é difícil, mas o esforço vale a pena. “É preciso buscar o ramo dentro de jogos que você mais se identifica e se tornar um especialista na área”, destaca ele que, em parceria com colegas de turma, está desenvolvendo dois projetos interessantes.

O jogo “Enigma de Osíris” é voltado para o treinamento em Anatomia e o “Eletrotermofototerapia – the game” é voltado para que alunos de Fisioterapia possam simular situações reais utilizando os recursos terapêuticos para tratar os pacientes.

Apaixonado por games desde a infância, quando jogava “Super Mario”, “TopGear”, entre outros, Rafael conta que hoje joga até menos, devido à rotina de estudos e desenvolvimento de jogos. “Passo parte de meu dia na faculdade. Mas, mesmo lá, eu fico constantemente na frente do computador. E, geralmente estudo modelagem 3D. Passo cerca de sete horas ou mais na frente do computador estudando”, conta Rafael, que sempre que pode joga “Winning Eleven”.

Antenado

Quem também fica com pouco tempo para brincar é o arquiteto e designer Daniel Gularte, 33, que é um “gamer” desde o lançamento das primeiras gerações de jogos eletrônicos. “Dos consoles que mais joguei, certamente o ´Nintendinho´ me marcou mais”, afirma ele, que não consegue ficar longe de um computador.

“É uma ferramenta essencial de trabalho. Em design digital, é impossível trabalhar sem ele. Meus métodos de criação remontam à velha escola de design. Consigo aliar técnicas diversas buscando um design inteligente. Trabalho com criatividade o dia todo. Crio alguns jogos e aproveito para aplicar meus conhecimentos acadêmicos em projetos estratégicos”, destaca Daniel que é designer gráfico no Banco do Nordeste e professor da disciplina de Game Design, além de dar aulas de animação, manipulação da imagem, projeto, entre outras.

Entre os projetos que já executou, Daniel pesquisou sobre criação de jogos, elaborou uma teoria de engenharia de criação de jogos que é utilizada por seus alunos. “Fiz também um trabalho com um jogo experimental, o ´Kamur´, que serviu para testar a usabilidade de aplicativos em TV Digital. Também trabalhei em interatividades com mídias digitais. Atualmente estou com projetos de jogos para a empresa onde trabalho e documentando os resultados”, conta.

Mercado em ascensão

Inserido num mercado em plena expansão, Daniel destaca que os brasileiros são qualificados para o mercado internacional. “Temos muitos profissionais que são referências mundiais. Como ganhamos em dólar, as empresas conseguem negociar valores mais em conta do que contratar profissionais do próprio país. Mesmo sendo um modelo de negócio que agrada a ambos, acredito que podemos gerar muito mais que isso”, comenta.

Para se ter uma ideia, dados do NPD Group, importante órgão de pesquisa de mercado dos Estados Unidos, apontam que de 1999 até 2009, a indústria de games em todo o mundo teve mais de 400% em faturamento. No mesmo período, a indústria cinematográfica cresceu por volta de 32%.

E os cearenses estão conquistando espaço. Átila Correia, 30, por exemplo, já desenvolveu projetos para a Sony Ericsson (um deles premiado com o “Sony Ericsson Recognition Award”). Analista de sistemas, ele comanda o Virtue Studio com Carlos David, especialista em 3D. A empresa já desenvolveu diversos jogos em parceria com outras empresas, autônomos e projetos “inhouse” (feitos totalmente pela empresa para beneficio próprio).

Destaque para produtos como o “Luz da escuridão”, ´Asteroids”, “Super turismo”, “Pet gift”, “Radical tube”. Inclusive, este último ganhou um concurso internacional da Nokia, chamado “Calling All Innovators Latin America”. “Também desenvolvemos o jogo educacional ´Hemoção´ para o Núcleo de Genômica da Universidade Estadual do Ceará, entre outros”, conta Átila.

Para ingressar nesta área, Átila destaca que dedicação é um pré-requisito essencial. “Muitos acreditam que na área só existe fantasia e glamour, porém as barreiras são enormes. Para aqueles que realmente desejam investir nessa carreira, eu aconselho muito estudo autodidata, uma boa faculdade, uma boa rede de contatos e amigos que sempre te apoiem quando a situação ficar difícil”, diz Átila.

Por onde começar

Daniel completa que vale começar por uma faculdade de design, seja com cursos específicos (gráfico, produto, multimídias) como relacionados (publicidade, comunicação). O próximo passo deve ser a especialização em tecnologia (cursos de computação das variadas áreas), gerando conhecimento por meio da publicação de artigos de pesquisas.

“Estamos começando um processo entre universidade e mercado de jogos e nada mais oportuno do que gerar informações relevantes”, ressalta.

Para jogar nas férias

Os jogos eletrônicos são destaques em dois eventos que acontecem neste mês. De 13 a 31 de julho, o Centro Cultural BNB recebe o I Festival Bojogá de Jogos Eletrônicos. Idealizado por Daniel Gularte, mais de 400 itens que contam a história dos jogos eletrônicos estarão expostos. Além disso, aparelhos das velhas e novas gerações estarão à disposição para quem não resiste a um controle. Os campeões concorrem a premiações.

Quem deseja conhecer mais sobre este mercado, oficinas, workshops e uma conferência vão abordar o tema de forma fácil.

“Procurei então priorizar a disseminação da cultura de jogos e que cada atividade realizada no Festival possa agregar conhecimento aos seus participantes. A programação é muito diversificada e contemplo jogos de todas as naturezas. Torço para que quem participe possa usufruir de nossas interatividades”, comenta Daniel.

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